Conheça a história do designer Rafael Cardoso

O historiador Rafael Cardoso é um designer? Talvez não seja propriamente um profissional da área, mas domina o assunto como poucos. É dono de um conhecimento profundo em design e, por isso, já é merecedor do título.

Partindo dessa constatação, o pesquisador e designer Rafael Cardoso Denis é autor de relevantes livros relativos ao universo do design.

Entre algumas de suas obras mais importantes, se destacam: “Design para um mundo complexo”, “O design brasileiro antes do design: aspectos da história gráfica, 1870-1960” e “Uma introdução à história do design”.

Quer saber mais sobre o autor e seus títulos? Continue a leitura!

designer rafael cardoso

fonte: amenidades do design

Breve biografia de Rafael Cardoso

Rafael Cardoso nasceu no Rio de Janeiro, rodeado de múltiplas influências culturais — seu pai veio da França, era filho de pais alemães e migrou para o Brasil durante a Segunda Guerra Mundial.

Sua mãe é original de uma renomada família de escritores: sobrinha de Lúcio Cardoso, autor de Crônica da Casa Assassinada (1959) e de Maria Helena Cardoso, também escritora. Aos 5 anos de idade, mudou-se para os Estados Unidos com os pais. Lá, estudou sociologia na Universidade Johns Hopkins, em Baltimore, onde se formou em 1985.

Na volta ao Brasil, concluiu um mestrado em história da arte pela Universidade do Rio de Janeiro e, depois, se tornou PhD na mesma área pelo Courtauld Institute of Art, em Londres, entre 1991 e 1995.

Suas obras — de ficção e não ficção — começaram a ser publicadas em 2000. O primeiro grande sucesso na área foi o livro “Uma introdução à história do design”, amplamente adotado pelas instituições de ensino brasileiras.

Rafael também é professor da escola Superior de Desenho Industrial na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, curador independente e perito judicial.

Seu trabalho inclui diversos títulos e ensaios sobre a história da arte e o design no Brasil. Entre os de ficção, “Entre as mulheres” (2007) foi destaque internacional após sua tradução para o alemão e “O Remanescente” (2016) foi publicado, ao mesmo tempo, no Brasil e na Alemanha.

O autor trilhou uma carreira acadêmica entre os anos de 1996 e 2012 em período integral, atuando como professor na PUC do Rio de Janeiro e na UERJ.

A partir de 2007, se tornou cada vez mais conhecido pelo trabalho como curador, realizando diversas exposições de arte brasileira. Porém, sua notoriedade está associada ao profundo conhecimento em design, que destacamos na obra “Design para um mundo complexo”.

Design para um mundo complexo

Publicado em 2012, o livro discute o papel do design em nosso tempo. Seu intuito é mostrar que essa área do conhecimento pode ser usada para transformar o mundo atual, revisando algumas noções básicas como forma, função e significado.

Desde o surgimento do design, no período industrial, até a década de 1980, o pensamento determinante era funcionalista. Os artefatos deveriam ser fabricados de acordo com a máxima “a forma segue a função”. A manufatura seguia o paradigma da produção em massa: “tudo igual e em grandes quantidades para todos”.

A exceção a tal pensamento era sustentada por designers que defendiam os princípios de Victor Papanek. Segundo o autor, a produção deve ser flexível, atendendo às demandas por diferenciação.

Na obra “Design for the Real World” (1971), Papanek aborda questões ecológicas, problemas sociais e impactos ambientais. Rafael Cardoso é seguidor desses princípios, e seu livro é uma adaptação de tais pensamentos aos dias atuais, acrescentando-se a influência do meio digital.

Papanek criticava a maneira como o design era utilizado em contraste com um “mundo assolado pela miséria, degradação e violência”. Defendia, ainda, mais empenho em projetos que criassem soluções para o mundo real.

Cardoso afirma que os questionamentos levantados por Papanek continuam sendo um problema nos dias de hoje. E sustenta que o design, para se efetivar, deve ser considerado em toda a sua complexidade (ou seja: “um sistema composto por muitos elementos, camadas e estruturas”).

A ideia é usar essa área do conhecimento como instrumento para organizar o mundo industrial e tornar a vida sustentável. Seguindo essa linha, Cardoso demonstra uma preocupação com o ciclo de vida dos artefatos — definidos por ele como objetos de design, produzidos pelo Homem, que reúnem atributos como utilidade, forma e beleza.

Segundo seu entendimento, “o objeto de design é definido muito mais por seu uso do que o próprio objeto”. Em outras palavras, dependendo do contexto em que ele se apresenta, carrega um significado diferente.

O artefato exposto em um museu pode ser uma obra de arte, mas, na vitrine de uma loja, assume uma função comercial.

O conteúdo do livro “Design para um mundo complexo”, como um todo, apresenta uma preocupação em adequar o design às diversas necessidades do público consumidor atual. Ao mesmo tempo, é necessário dar atenção ao ciclo de vida e descarte das peças.

Rafael demonstra como itens descartados podem ser reciclados para outras pessoas. É o momento do ciclo de vida do objeto em que a reutilização do velho atribui um novo significado a ele, que passa a ter outra finalidade.

Além disso, esse ato assegura uma economia maior em sua fabricação e utilização, uma vez que o artigo pode servir para outros propósitos — em vez de simplesmente acumular mais entulho no meio ambiente.

designer rafael cardoso

O design retrô pelo autor

De acordo com seu entendimento, as pessoas tendem a olhar para o passado e enxergar uma época mais simples e organizada do que hoje, sem tantos problemas. O mesmo filtro mental as leva a lembrar mais do que é agradável e reconfortante.

Esse comportamento induz a uma reverência aos anos anteriores, fazendo com que a nostalgia facilmente venda antiguidades ou produtos novos em estilo retrô, desde móveis até automóveis. Na moda, esse fenômeno é recorrente e alimenta o setor.

Rafael argumenta que os ciclos retrôs se aceleram e acabam se confundindo. Cita como exemplo o revival dos anos 1980, que já usava elementos dos anos 1950 e 1960, constituindo retomadas constantes ao passado.

Os artefatos nesse estilo recebem a denominação de clássicos, e as revistas afirmam que “nunca saem de moda”, o que parece contraditório no ramo.

Contudo, o historiador pontua que nenhum público está imune à nostalgia. No entanto, é preciso que o designer se preocupe em não cair na tentação de produzir cópias pioradas do que já foi feito.

Reviver, de fato, algo do passado para o público já é um grande desafio. Assim, em vez de simplesmente copiar as aparências, é necessário revestir o item com o espírito que o norteou.

Ao vencer essa etapa, o projeto transcenderá a mera nostalgia e trará algo novo — o que não é tarefa fácil. Os designers que o digam!

Em sua obra, Cardoso faz uso da informalidade e de certa provocação, em um convite à reflexão. Mais do que conceitos e percepções de comportamento, ele nos incita a perceber a complexidade do profissional da área e sua importante missão.

Os exemplos usados ilustram o dia a dia do leitor, facilitando a compreensão do raciocínio e dos conceitos abordados. Trata-se de uma leitura rica e construída pela perspectiva de um entusiasta do universo em questão.

Sua bagagem de usuário e pesquisador, em muitos sentidos, é tão reveladora quanto o registro feito por um designer de formação.

Você já teve a oportunidade de ampliar seus conhecimentos em design por meio da obra de Rafael Cardoso? Deixe um comentário e compartilhe sua experiência com a gente!